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DISCURSO CATARINENSE N. 11 - POLONESES, GREGOS e SÍRIOS EM SANTA CATARINA

(Transcrição do artigo de EVALDO PAULI (1997), Prof. da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Membro da Academia Brasileira de Filosofia do RJ, do Instituto Histórico e Geográfico de SC e da Academia Catarinense de Letras)

 

262. A imigração de minorias se tornou cada vez mais fácil com o progresso das comunicações. Todavia por razões outras, já bastante cedo se notou a presença em Santa Catarina de imigrantes poloneses, gregos e sírio-libaneses.

            Note-se que os poloneses são indo-europeus eslavos, como também o são os russos, eslovenos, búlgaros, tchecos, ucraínos. Vieram para Santa Catarina sobretudo os eslavos poloneses, como ainda uns poucos tchecos e ucraínos.

            Os gregos também são indo-europeus, ainda que não eslavos. De início denominados helenos, fizeram-se conhecer como gregos, ao invadirem o Mediterrâneo, de onde vieram em pequenos grupos para Santa Catarina.

            Mui diferentemente, sírios e libaneses são etnicamente semitas, como o são também os árabes e judeus. Dentre os semitas emigraram para Santa Catarina sobretudo os primeiros - sírios e libaneses.

           

I - POLONESES EM SANTA CATARINA

264. A imigração polonesa para Santa Catarina se fez inicialmente através da imigração alemã. É que a Polônia, até 1918, era um território dividido entre a Alemanha, Áustria e Rússia.

            Este fato fizera que poloneses houvessem já anteriormente emigrado para a Alemanha, sobretudo para a Prússia, como inversamente, alemães haviam emigrado para a Polônia. Assim aconteceu que, ao se dar a imigração alemã para Santa Catarina, vieram alemães étnicos nascidos na Polônia, e poloneses étnicos nascidos na Alemanha.

            Esta observação vale sobretudo para a colônia alemã de Brusque, fundada em 1860. Quem eram os tecelões de Lóds (pronuncia-se Uds - nome de cidade polonesa), vindos para Brusque. Têm de ser vistos dentro da situação descrita como sendo a daquela época.

            Nisto tudo nos auxilia também o aspecto exterior dos nomes. Mas nem tudo, porque as famílias poderão estar miscigenadas. Atenda-se, pois, em que contexto se fazem as afirmações.

            O mesmo acontecia com a presença de imigrantes poloneses em outras colônias alemãs. Em alguns casos, porém, ocorreu o reagrupamento dos poloneses. Por isso se pode falar em núcleos poloneses, em torno das colônias alemãs, das colônias mais recentes, como as do Vale do Itajaí, do Litoral Norte do Estado. Poloneses também se notam no Vale do Rio Tijucas, no contexto da Colônia de Nova Trento.

 

A influência da Áustria, que, por algum tempo incluía a Itália do Norte, facultou a vinda de poloneses, ao mesmo tempo que, para as colônias italianas. Agora acontece a presença de imigrantes (as vezes grupos, ou mesmo núcleos) poloneses no Vale do Rio Tijucas e no Sul do Estado, como em Pinheirinho (Jacinto Machado), Cocal e outras bandas da bacia do Rio Tubarão.

 

Ao longo do Planalto Norte de Santa Catarina ocorreu uma penetração polonesa a partir do Paraná. Foram, entretanto os poloneses em maior número no Paraná que em Santa Catarina.

Os poloneses fizeram-se notar em Porto União, Mafra, Monte Castelo, Papanduva, Canoinhas, Itaiópolis (Colônia Lucena)

             Assim também no Oeste Catarinense aconteceu uma penetração polonesa a partir do Rio Grande do Sul. Nota-se em Caçador, Rio das Antas, Mondaí, Descanso, Rio do Oeste.

           

265. Cedo chegaram os poloneses também à Capital de Santa Catarina, agora, sobretudo por efeito de polarização, atraídos de diferentes colônias do interior do Estado.

Houve os que vieram para o serviço militar, como por exemplo Maykot, e depois resolveu ficar, e outros por efeito político, porquanto eleitos como deputados, por exemplo, Slovinski, se estabeleceu com sua família.  Houve mesmo, os que, como os Grams, vieram dos Estados Unidos, como operários especializados, com vistas à montagem da Ponte pênsil Hercílio Luz, inaugurada em 1926, e que depois decidiram permanecer na cidade.

           Com o crescimento da colônia polonesa de Florianópolis, ela se associou, já cedo, na forma de Sociedade Polônia (Towarzystwo Polonia), em 6 de março de 1991 (Diário Catarinense, F-polis, 15-8-2005).

 

266. Pelos seus sobrenomes se reconhecem os polonos de Santa Catarina, o masculino terminando ordinariamente em “i”, o feminino terminando em “a”, além de não ser pronunciada a letra ao modo de k.

            Eis sobrenomes poloneses presentes no Estado, com frequência também na Capital:

Adada, Angulski, Bartucheski, Berezanski, Berka, Bialecki, Blaskiwiski, Bocianoski, Brzezinski, Choinacki, Cizeski; Demboski, Dobes, Dobrovolski, Domareski, Drill, Dubiela, Falkoski, Feigel, Grams, Guzenski, Javski, Jenzak, Kaminski, Kincheski, Kliermazok, Koneski, Kowalski, Kozuchoski, Kubulkla, Kwiatowski, Labanovski, Laske, Laskos, Levendoski, Liecheski, Ligocki, Luciw, Maciorowski, Makiolke, Makowiecky, Marcinko, Maykot, Milak, Minsky, Miroski, Najzion, Novacki, Opulska, Ostrowska, Piasecka, Piscorski, Przysiada, Pundek, Rozanski, Rozicki, Rubik, Rutkosky, Rzatki, Sempeticowski, Simiski, Skrenski, Slovinski, Sobierajski, Studinski, Sudoski, Szpoganicz, Szule, Titeritz, Tokarski,Trompowski, Valendowski, Wiecko, Wolovski, Wonschevski, Wosgraus, Wyrobek, Zomkowski Zuchowski, Zytkvewisz.

 

267. O aspecto cultural dos poloneses é de pronto notado pelo gosto para as cores. São notáveis pelas suas vestimentas coloridas, bem como das casas e cercados vistosos. O mesmo acontece com os edifícios de suas igrejas.

            São também os poloneses notoriamente tradicionais. Em religião se manifestam tradicionalmente católicos. Inclusive o número de poloneses influencia as estatísticas dos católicos, sejam as dos Estados Unidos, sejam as de Berlim, como ainda as de Curitiba, e não raro as de algumas localidades de Santa Catarina.

            Na agricultura os primeiros imigrantes poloneses de Santa Catarina cultivaram o trigo, a cevada, o centeio, a aveia.

 

 

II – GREGOS EM SANTA CATARINA

            

269. Também os gregos, ou helenos, famosos pelo seu passado cultural, se fizeram presentes em Santa Catarina, destacando-se logo pelo seu trabalho e contribuição cultural.

            Chegaram os gregos em 1883, à Capital catarinense, - não trazidos como imigrantes destinados a uma colônia patrocinadora, mas como um grupo de mais de cem pessoas que naquele final de séculos espontaneamente se estabeleceu.

            Vieram os primeiros da Ilha de Kastelórizon.  Faziam parte da tripulação de um navio, que, - atravessando o Atlântico, fora até Montevidéu, - e que no retorno se deixaram ficar em uma outra Ilha, cuja magia os encantou.

 

            No desembarque dos gregos na Capital de Santa Catarina houve a convergência de um episódio. O navio, comandado pelo Capitão Nicolau Savas (1858-1926), teve que eventualmente aportar na Ilha de Santa Catarina, para se refazer dos danos infligidos ao seu barco no curso de uma tempestade na costa Sul. Foi naquele ano de 1883, que diversos embarcadiços resolveram ficar em terra. Outros mais vieram por própria iniciativa. O navegador Savas, em 1889, optou por se estabelecer também ele, onde deixara os primeiros imigrantes helenos.

           Como se sabe, igualmente vieram gregos para o Rio de Janeiro, ali se destacando pelo descendente João Pandiá Calógeras, como se destacariam também aqui os descendentes dos da Colônia Grega de Florianópolis.

           Dos gregos vindos para Florianópolis, alguns reemigraram para outras localidades ao longo do litoral, como Palhoça, Laguna, Itajaí, São Francisco, Paranaguá, Santos, ou mesmo de retorno para a Grécia.

 

270. Pelos seus sobrenomes se reconhecem os gregos de Santa Catarina:

Athanazios, Atherino, Berçou, Christofis, Chruyssaki, Chrystakis, Chrystoval, Comninos, Constantópulos, Dimatos, Elias, Femanis, Garofal, Haviaras, Ikonomos, Joanides, Kailis, Kalafatás, Karabalis, Katcipes, Komninos, Kotzias, Lacerda, Mazarakis, Pandazidis, Pítsica, Savas, Serratines, Sirydakis, Spyrides, Stavianou, Triantafillis, Tzelikis.

(Cf. Paschoal Apóstolo Pítsica, Palavras e registros, F-polis, 1993, no item Contribuição para o estudo da genealogia dos gregos na Ilha de SC, p. 173-183).

 

271.  A Associação Helênica. Os gregos fundavam em 1938 a Associação Helênica de São Constantino, em torno da qual por alguns anos se desenvolveu o espírito de comunidade do grupo.

A Associação Helênica de Santa Catarina, com sede em Florianópolis, promoveu o centenário da Colônia Grega Urbana de Florianópolis, em 1983, com a presença do Embaixador da Grécia Diamatis Vakalopoulos.

 

             Parnasso, com n. 1, em 1985, surgiu como “Guia Cultural Heleno-brasileiro de Florianópolis”. ==

            Tiveram destaque na cultura catarinense Jorge Lacerda, que também foi Governador, e Paschoal Apóstolo Pítsica (19..-19..), que foi Presidente da Academia Catarinense de Letras.           

 

272. A Igreja de São Nicolau, do Rito Grego Ortodoxo, foi construída num dos altos da Rua Tenente Silveira, representando o credo religioso da maioria praticamente absoluta da colônia grega urbana de Florianópolis.

            Como clérigo ortodoxo, da Igreja de São Nicolau, se fez conhecer Monsenhor Chrissakis, nascido em 1898 e falecido em 30-1-1971, nascido em Smirna (hoje da Turquia), e casado com Crissa.

 

III – SÍRIO-LIBANESES EM SANTA CATARINA

           

274. Uma nova imigração para Santa Catarina, - a dos sírio-libaneses, respectivamente da Síria e do Líbano, - deu-se quando já iam passando os últimos anos do Império. A referida imigração da Ásia Menor para o Brasil foi facilitada pela circunstância de haver cristãos (católicos, ortodoxos, maronitas) naqueles dois países situados ao Norte da Palestina. Evidentemente vieram também Palestinos.

            Como se sabe, a Síria (Capital Damasco) esteve sob soberania turca, de 1517 a 1918, de onde veio que os imigrantes turcos eram ditos turcos, no Brasil. Em 1920 a Síria passou ao mandato francês, até se tornar independente em 1944.

            Também o Líbano (Capital Beirut) foi Província da Turquia até 1918 e em 1920 sob mandato francês, até se tornar independente em 1944.

            Em virtude da preferência brasileira pelos imigrantes agricultores, vieram muitos sírio-libaneses com esta qualificação. Entretanto, já no Brasil, estes imigrantes efetivamente prosperaram no comércio, na indústria e em outras profissões urbanas.

 

275.  Em Santa Catarina os sírio-libaneses se estabeleceram dispersivamente em Florianópolis, São Francisco, Itajaí, Jaraguá do Sul, Blumenau, Porto Belo, Laguna, Tubarão, Criciúma, Canoinhas, Mafra, Porto União, Caçador.

            Penetraram os sírio-libaneses inclusive nas regiões rurais alemãs de menor população, visando o comércio com os operosos agricultores, até porque a estes podiam vender a prazo, confiando na honestidade dos mesmos, queixando-se não raro de outras etnias.